Parte 2: Nova Vida

Reação em Cadeia- Sem Querer

Quando lutamos por algo que queremos, mesmo que custe alguma coisa, sempre conseguimos.

Tudo o que acontecia, poderia me fazer desistir, mas eu queria mesmo era tentar até o fim. Queria mesmo era provar que eu estava certo.

Eu sentia a falta dela. Sentia muito a falta dela.

Demorei para conseguir dormir, mas já era hora de acordar. Hoje seria o dia em que eu começaria uma nova vida.

 Acordar com uma sensação de que alguma coisa especial iria acontecer e que tudo daria certo, não podia ser melhor. Até Tina dormiu comigo, mas saiu correndo quando eu a vi.

- Você vai ver o que eu vou fazer, Isabela. Me aguarde.

- Por que é tão complicado fazer uma refeição, cara?! Essa merda quase queimou de novo!

- O que houve?

- Não sei cozinhar direito, mas dá para comer.

 - A sua mãe já aprendeu a cozinhar?

- O quê?

- A sua mãe... Ela cozinhava tão mal.

- Ela melhorou, acho.

- Depois disso aqui, vamos no porão. Quero te mostrar os instrumentos. 

- É lá que vocês ensaiam?

- Sim. E os vizinhos ficam loucos, cara. Você tem que ver a barulheira que a gente faz!

 - Não tem ventilação aqui, espero que não se incomode com isso.

- Tá brincando? Não é isso o que importa!

- Caramba, eu sempre quis ter uma guitarra! É muito linda!

- Uau! E já está tocando! Os caras vão se impressionar com você. Eles estão achando que você é um bocó no assunto, pela sua idade, mas... Cara, quantos anos você tem mesmo?

- Tenho 19 anos de muita vontade de tocar! Vou calar a boca de todos eles, pode deixar!

- É assim que se fala! É assim mesmo!

- Estão vendo isso? O cara tem potencial!

- Tem razão.

- Ele pode até tocar bem, mas vai conseguir nos acompanhar? Ele é muito novo pro negócio, não acha? Você disse que ele só tem 13 anos, cara!

- Esqueça o que eu disse! Falei errado, ele tem 19 anos, na verdade.

- Você é desligado, hein!

- Normal, deixa o cara!

- Você entende do negócio, hein! Gostei!

- Ah, valeu! Mas e aí, não vamos ensaiar nada?

- Sim. Preste atenção em como nós fazemos. Ok?

- Demorou!

Let's go!

30 Seconds to Mars- City of Angels 

Yeah!

 - Vamos detonar hoje à noite! Temos um compromisso, e você vai estar lá!

- Não sei se estou pronto para me apresentar, poxa!

- Não importa, nos assista para aprender. Daqui um tempo você já vai poder entrar definitivamente na banda!

 Aquela noite seria bem interessante. E eu estava bem animado para chegar a minha vez, e sentir na pele o poder da música e de tudo que a envolvia.

 Os caras eram feras! Só estava faltando a vocalista que eles arrumaram depois de uma briga que tiveram com o antigo. Meu primo me contou, mas nem sei como ela é.

Espera. Lá estava ela. Será? E será que ela voltaria a cantar na banda? Eu iria conhecê-la melhor?

Aquela era mesmo a vocalista e, acho que já estava bem ocupada.

 Pensei que fosse melhor subir um pouco e aproveitar para ir ao banheiro. Subindo as escadas, escutei uma pequena discussão de alguém ao telefone.

 E me deparei com uma moça encostada na parede do corredor disfarçando um possível choro.

- Tá tudo bem? Escutei seus gritos lá da escada.

- Não, não, tá tudo bem sim.

- Se quiser conversar, estarei aqui. Se... se precisar.

Ela não disse uma palavra, só me olhava com aquela cara de preocupada. Acho que eu não devia falar assim com ela, mas é que... Ela era tão atraente.

O que eu estava fazendo? Querendo me esquecer da Isabela? É... Isso faria bem para mim, afinal, com certeza ela deve estar mostrando toda a sua raiva por mim para o Paulo, e eu, só perdendo o meu tempo.

 O certo era que alguém perdeu o seu tempo. Não era eu.

O show estava ótimo, mas não era qualquer um que podia ver.

 - Por que você não vai embora? Sua piranha.

- Você não vai conseguir nada.

- Não quero nada.

Depois que o show acabou, voltei para casa com o meu primo. E pela primeira vez, vi paparazzis. Aquilo me assustou um pouco e só estava começando.

 - Nossa... Nunca pensei que passaria por isso.

 - Isso ainda é pouco, cara. 

- Eles demoram ali fora?

- Às vezes.

- Fica tranquilo. Vou fazer uma comidinha e depois, banho!

- Tá beleza, então!

- Você curtiu o show? Acha que vai poder tocar umas músicas da próxima vez?

- Talvez, se forem conhecidas.

- É muito bom cara. Você logo vai esquecer a sua ex-namorada, por um tempo. Vai te fazer bem, você vai ver. O que você acha?

- Uhum.

- Hein?

- Falei que sim.

- De quem é esta revista aqui na mesa?

- Ah, pode ficar pra você. Essa garota aí é uma modelo top da cidade. Linda, não é?

- Acho que a vi hoje lá no show. Era ela.

- De vez em quando ela vai mesmo. Tá interessado nela? Posso conseguir o celular dela.

- Não, que isso!

- Brincadeira! De repente, a sua mulher lá pode aparecer aqui com uma faca querendo me matar, não?

- Prefiro nem comentar.

- Fala a verdade, cara... Você ainda quer volta pra sua casa?

- Na verdade não. Eu seria um idiota se eu fizesse isso agora.

- Isso mesmo, você é forte, cara! Você sobreviveu à criação da sua mãe desnaturada. Não foi?

- Não fale da minha mãe, pow! Não tem nada a ver.

- É... Relaxa cara.

- Eu só quero provar pra ela que eu estava certo e mostrar o que ela perdeu.

- Pra sua mãe?

- Não. Isabela.

 Sua vida pode ser uma comédia, uma aventura ou uma história de superação, sucesso e amor. Mas pode ser também um drama, uma tragédia ou a monotonia da não-mudança. 

Porque todos nós temos tudo isso em nossas vidas. O que muda é como editamos, em quais experiências mantemos o foco e sobre o que falamos. 

Fale do drama, e sua vida será um drama. Fale da aventura e a mesma vida será deliciosa.

 Sem os desafios para testar nossa capacidade de superação, a vida não teria graça...

Com o tempo você aprende que TUDO tem solução. Basta ouvir aquela vozinha interior sussurrando: "Relaxa, tudo vai dar certo, você sabe!". Aí é só deixar sua criatividade fluir, tomar uma atitude, esperar a hora certa da colheita e logo ver que as coisas se encaixam com harmonia.

Com esta percepção você descobre que o bicho de sete cabeças (ou o gigante Golias, como preferir) que tanto te assusta, tem apenas tamanho, mas não cérebro; você é que é o ser racional que decide o grande final da história!

 Superação talvez seja a palavra que rege a vida;

Superamos coisas boas e ruins, amores e magoas, 

Brincadeiras e tropeçadas!

Superamos a vida, a idade o conhecimento...

Superamos até o que nos impõe, o limite.

Supere, antes de qualquer coisa, supere falhas,

Magoas e feridas.

Antes do próximo passo, é preciso superar o primeiro.

Às vezes eu paro, penso, sera que tudo isso vale a pena? De fato nunca vou saber se tudo isso vale a pena ou não, mas continuo tentando, porque para sermos felizes, não devemos medir esforços, apenas devemos levantar a cabeça e imaginar que o amanhã, pode ser melhor.

 - Se afaste um pouquinho, por favor.

- Tá bom assim?

- Isso.

 - Tudo bem, só mais uma nesta pose. Isso. Maravilha.

 - Mão na cinturinha, assim mesmo. Muito bom.

 Quando vou todos os dias para o mesmo lugar sabendo que vou ver alguém, eu esqueço de tudo e penso apenas que o tempo vai resolver os problemas, nos aproximar … ou não.

Será que isso tudo vale a pena?

Eu poderia apenas tentar.

 - Me desculpa. Não queria te incomodar, mas eu precisava tanto de uma foto sua.

- Por que?

- Bem... Soube que você será o novo membro da banda Conflito.

- É verdade.

- Boa sorte! Adoro o som, é muito legal!

- Ah, valeu!

 - Posso tirar uma foto sua também? É para mim.

- Acho que sim.

- Essas pessoas não nos dão descanso... Posso me sentar aqui?

- Claro.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Pode.

- Por que você fica na praia? Tipo... Você sabe do que estou falando.

- Não sei não. Eu só gosto de correr, gosto de praia. Eu juro que...

- Pensei que gostava de me observar.

- Hã?

- Esquece. Quando é que vocês irão tocar naquele lugar de novo?

- Ah, então você é mesmo aquela garota nos corredores do banheiro? Então... Não sei direito, preciso ver com o meu primo como é que está a nossa agenda.

- É muito difícil aprender a tocar ou você já sabia?

- Mais ou menos. Melhorei aqui com os ensaios. Quando se quer muito, nada é difícil.

- Você não era daqui?

- Não. É uma longa história essa minha vinda para cá. Na verdade, foi meio que uma loucura!

- Me conte mais...Como assim?

- Ainda estou superando algumas coisas, então, posso contar depois... Mas, me conte a sua história. Tipo, se você gosta da sua vida de modelo e tal.

- Ai, foi um sonho realizado! Desde pequena, sempre quis aparecer em revistas, desfilar em passarelas e ter a chance de ficar famosa... Estou quase lá! Eu adoro!

- Mas sabe... O que eu mais queria no momento era arrumar um namorado pra mim e dividir as minhas alegrias com essa pessoa. Mas, está difícil.

 - Eu... Eu vou lá pra baixo acender uma fogueira. Tá bom?

- Uhum...

 - Você não quer mais conversar comigo?

- Não é isso. Por que pensou isso?

 - Porque você simplesmente saiu de perto de mim. Pode contar comigo agora, não sou um bicho de outro planeta, sei que você precisa de alguém pra conversar, pelo menos.

- Foi mal. Realmente, você é muito legal.

 - Você deve se sentir um estranho nessa cidade. Não é? Sei bem o que é isso.

- É tão estranho.

- Pois é! Por isso que eu quero ficar perto de você, quero que aceite isso.

- Eu aceito. Será uma ótima companhia... Vem cá, esquentar as mãos. Hum?

- Sério?

- Levanta daí, poxa. Não acendi essa fogueira à toa, não. Vem cá.

- O que foi?

- Nada. Eu vou.

- Meu nome é Nicole. E o seu?

- André.

 - Por que está me olhando assim? Alguma coisa de errado comigo? Eu quero entender.

 - Poxa, não sei. Acho que só quero ficar olhando pra você. Isso é ruim?

 - Na verdade, acho que é ótimo.

Ela se aproximava de mim, de verdade.

 - E isso?

- Uau...

 - E isso?

- Demorou, menino...

 Engraçado como tudo aconteceu, e que parecia que não iria acontecer.

De repente, não me importava mais nada e, não lembrava mais o que me incomodava até então. A saudade.

 - Viu só? Não foi tão difícil. Se sente melhor agora?

- Com certeza. Cara, nem imaginei que eu estaria aqui fazendo isso.

 - Mas, por que você quis isso? Você parecia ser tão... Sei lá, pensei que nem fosse me notar. Sou só um novato na área e tal.

- Isso não importa. Olha, agora eu preciso ir. Amanhã cedinho tenho que trabalhar.

 - Não vai me dar o seu número de celular? De repente, podemos nos ver amanhã.

- Não posso. Pelo menos não agora.

- Pelo menos não agora? Como assim?

- Tudo bem...