Continuação 05

Alguns meses depois...

Nos encontrávamos sempre que dava, e passávamos o tempo juntos fazendo o que queríamos fazer.
Sentia que André estava amadurecendo ao meu lado e me deixava cada vez mais apaixonada por ele.

 E também sempre que dava, eu o ajudava com a lição de casa, embora ele não gostasse muito de fazê-la.
Queríamos tanto que as aulas dele acabassem logo, porque assim teríamos mais tempo para o nosso namoro, e tínhamos planos para isso.

Ele se esforçava e muito para fazer bonito, mas eu sabia que ele não gostava nem um pouco de estudar.

- Chega vai, já acabei! Quero fazer outra coisa antes que eu fique louco, cara!
- Tá, mas o que você quer fazer?

Não sei porquê perguntei se eu já sabia o que sempre fazíamos depois. Como sempre, ficávamos sozinhos. André, guardava o material e logo vinha me agarrar.

Ele me apertava tanto que às vezes eu tinha medo. Não medo dele, mas sim de acontecer alguma coisa que não estávamos esperando. Um medo principalmente dessa nossa aventura ser descoberta, da pior maneira.

Mas não conseguíamos resistir, era uma aventura e queríamos ir cada vez mais longe.
- Vamos logo, antes que a minha mãe chegue.

E dessa vez eu sentia que alguma coisa iria acontecer, uma impressão de que não estávamos mais sozinhos, mas deixei rolar mesmo assim.

E eu estava certa.
- Quero falar com você, Isabela.

- Escuta filha, você passou o dia inteiro com o André?
- Sim, ficamos passeando um pouco na praia.

- E o que fizeram depois disso? Porque você chegou um pouco tarde, já anoiteceu.
- É que eu fiquei ajudando ele a fazer a tarefa de escola, pai.

- Tem certeza de que foi só isso?
- Ah pai, acha que estou mentindo é? O que mais eu poderia estar fazendo?

- Você poderia estar no quarto do André quase todo dia e voltando para casa como se nada tivesse acontecido. É isso o que você estava fazendo, porque agora eu sei.
Fiquei surpresa naquela hora, não sabia o que dizer. Realmente a minha intuição estava certa.

- Você pensou que ninguém iria descobrir ou desconfiar? Foi a Camila que me contou pelo celular, filha. Quando é que você iria nos contar o que você estava fazendo?
- Eu não sabia como, eu nem sei o que falar agora, pai.

- Uhum, vou ligar pro André, quero saber o que ele tem para me falar a respeito.
- Pai, não precisa fazer isso.

- Por que não?
Logo percebi que Adrian começou a prestar atenção no que estava acontecendo.
- O que aconteceu?

- Não é nada. Por que não vai jogar alguma coisa, irmão?
- Não, eu quero saber o que aconteceu.

- Filha, não está certo isso que você fez, você deveria ter nos contado.
- Eu sei mãe, mas eu não sabia como contar.

- Mas não tem problema não, o André vai confessar tudo agora mesmo!
- Mãe, ele não precisa fazer isso.

- É, ele não quer falar comigo, ele não atendeu.
- Vai ver ele está ocupado, só isso pai.

- Então vou ligar pra mãe dele e pedir pra ela brigar com ele, porque quando é você ele sempre atendeu o celular.
Adrian coçou a cabeça, agora ele já imaginava o que estava acontecendo.
- É, o cara faz as coisas e depois foge de medo do nosso pai, hein!

- Camila, pede pro seu filho atender o celular, se ele não estiver ocupado. Preciso ouvir ele confessar tudo o que eles fizeram escondidos, sabe, a Isabela está aqui e já sabe que ninguém aqui é idiota!
Papai não parava de falar ao celular com a Camila, ele estava tentando disfarçar que estava nervoso, só pra não ficar de verdade.

- Pois é Camila, falar pra ele vir aqui em casa assim que der e o mais rápido possível, quero ter uma conversa de homem pra homem com ele. Vai ser a chance dele provar que é homem o suficiente pra poder fazer o que ele fez com a minha filha!

- Pronto, agora é só esperar!
- Não precisava ter feito isso pai, eu sei cuidar sozinha da minha vida .

- Não, não sabe não! Se soubesse não teria me decepcionado desse jeito, fazendo as coisas escondida. Você teria contado logo no início, ou melhor ainda, teria pedido a minha permissão, porque você ainda é menor de idade pra achar que pode fazer o que quiser, sem se importar com nada!

- Você tomou os devidos cuidados pelo menos?! Porque eu sei que você é inteligente e não faria uma tolice de nem se lembrar disso!
- Claro que sim, pai.

- Filha, se você soubesse o quanto eu estou decepcionado com você...  Nunca pensei que esse dia chegaria tão cedo, parece que ainda ontem você era uma menininha. E de repente, eu tenho essa surpresa sobre você.

- Mas pai, faz tempo que estou crescendo assim! Olha pra mim, eu não sou mais uma menina, eu sou uma mulher agora, acabei os estudos, tenho trabalho, e logo poderei sair de casa. O tempo passou e você não viu?

- Acho que ela tem razão, amor.
Papai respirou fundo, mas nada disse. Seu olhar estava distante, perdido em algum lugar.
- Pai... Pai, fala alguma coisa!

Alguma coisa se passava na cabeça do meu pai naquele momento. Ele queria falar alguma coisa, mas se manteve calado, com os olhos cheios d'água, observando cada detalhe do meu rosto. Ele parecia não acreditar. Fiquei com pena.

Foi então que ele saiu dali, com os olhos carregados de lágrimas. E todos nós ficamos com pena e sem saber o que fazer, principalmente a verdadeira culpada dessa situação, eu.

Fui logo para o meu quarto, também queria chorar.
Comecei a querer me arrepender do que fiz, por tê-lo decepcionado daquele jeito, escondendo. Como eu iria explicar que era o que queria fazer, que eu sentia vontade e que estava de saco cheio de segurar porque o amor falou mais alto? Talvez ele entenderia, porque afinal, ele e mamãe já passaram por isso, eles também se amam. Mas mesmo assim, tive medo de contar e ele proibir, e acabou ficando pior do que já estava.

- Mãe, fala sério... O que eles fizeram?
- Eles fizeram o que não deveriam ter feito sem ninguém saber. Você escutou o seu pai falar que ela ficava direto no quarto com o André? Pois bem, é isso. Mas não fique falando sobre isso com ela, deixe-a em paz.

- Eu não gosto nem um pouco do André mãe, mas acho que não tem nada a ver brigar com ela por causa disso.
- O problema todo foi que ela fez escondido, só isso. Vou lá falar com ela.

- Isabela, precisamos conversar, querida.
- Tudo bem, eu sei.

- Não precisa chorar, minha filha.
- Mãe, eu não queria causar tudo isso, eu estou crescendo e tenho as minhas vontades, mãe.

- Nós sabemos disso. Mas, o seu pai ainda não tinha percebido que o tempo passou tão depressa, eu acho. Por que você não queria nos contar ou falar o que queria fazer? Acha que não é da nossa conta?
- Não sei, fiquei com medo da reação de vocês. Me desculpe, mãe.

- Imagino que o seu namoro está indo muito bem, não? Ele está se comportando como você gostaria?
- Sim mãe, temos até planos.
- Como assim?

- Mãe, queremos nos casar, morar juntos, viver juntos. Entende? Será que o papai aceitaria isso?

- Não sei, mas prometo conversar muito com ele pra ele deixar. Está bem?
- Ai mãe, claro! Ótimo!

- Te amo, minha linda.
- Também te amo, mãe. Poxa, muito obrigada.

- Meu bem, já conversei com a nossa filha, agora preciso conversar com você.

- O que vocês conversaram?
- Ela me contou que eles estão planejando se casar e viver juntos. Ela está quase independente e você terá que deixar se ela quiser sair de casa, meu amor.

- Mas eles estão namorando a pouco tempo e já querem isso tudo?
- Não é novidade, eles já comentaram que pensavam nisso. Ou você já se esqueceu da conversa que teve  com o André?

- Ah mas é que não pensei que fosse sério e tão cedo. Não posso deixar minha filha sair de casa assim, ela pode até sair com raiva de mim, sei lá, ela vai fazer falta.
- Você precisa se desapegar um pouco dos seus filhos, eles não estão aqui para sempre.

- Vai fazer bem a ela aprender a viver fora de casa, ela vai amadurecer mais. Eles estão mesmo apaixonados e determinados a ficar juntos, e vão fazer isso de qualquer jeito. Você precisa controlar o seu ciume e a sua vontade de querer proteger a sua filha, porque agora não é hora mais, meu amor.
- Tá... Eu vou pensar muito. Se é pela felicidade dela, eu farei isso.

- Você não vai mesmo confessar que vocês aprontaram bastante no seu quarto? Não adianta tentar querer esconder, porque eu já sei de tudo.

- Está bem mãe! Nós aprontamos todas lá sim, só que os pais dela não podem saber de jeito nenhum! Satisfeita?
- Por que não?
- Porque ela me pediu, e também porque eles poderiam ficar bravos.

- Mas acontece que eu já contei pro Vitor hoje. Parece que ele não ficou bravo com vocês.
- Não acredito nisso...

- Ela vai pensar que eu que contei, ela vai ficar com raiva de mim.
- O que você vai fazer?

- Onde você vai sem acabar de comer?
- Vou tentar falar com ela e explicar o que aconteceu! Vou ter que falar que foi a minha mãe intrometida que contou pra ele!

- Tudo bem, me desculpe, eu só fiquei preocupada.
- Preocupada com o quê? Você nem liga pra mim!

- Fiquei preocupada mesmo. Você poderia engravidar aquela menina já que você não tem juízo nenhum nessa sua cabeça. Aposto que a besteira já está feita, e esse que é o problema, você vai acabar se dando mal com o pai dela.
- Ah mãe... Estou tranquilo, sei muito mais do que você pensa, então nem vem.

- Amor, ainda bem que você chegou! Preciso te contar o que o seu filho andou fazendo.
- Ah não, não quero saber.

- Deixa pra lá, mãe.
- Olha, seja o que for, eu não quero saber desse imbecil! Não quero saber!
- Mas Cristian, você precisa, ele é o seu filho também!

- E daí?! Não vou mais ficar aqui, eu vou embora Camila!
- Que história é essa, meu bem?

- É aquela história que você já conhece, Camila. Você sabe que a qualquer hora eu poderia ir embora, já falei isso. Eu não aguento mais ficar aqui com vocês, e muito menos ter uma mulher que saí pra boate pra deixar aqueles babacas babando por você! Até agora eu deixei passar, aguentei, mas nunca gostei, e já que é o que você gosta, então eu vou embora arrumar outra pra mim!

- E não adianta fazer essa cara, Camila! Eu cansei dessa palhaçada, chega!

- Fala a verdade... Você tem outra mulher, não tem?
- E o que isso importa agora? Estou indo embora, isso é problema meu!

- Agora vai lá exibir o seu corpo para aqueles tarados na boate, antes que você se atrase!
- Vou sim! E vou fazer o mesmo que você! Pensa que eu não sei?!

Depois que Camila saiu, André foi logo para o seu quarto. Aquilo tudo estava ficando insuportável, as discussões e desentendimentos, e muito triste para ele que nunca pôde saber o que é ter uma família equilibrada, e não seria agora que o seu pai já estava abandonando ele e a sua mãe.
Às vezes André sentia vontade de fugir dali ou de beber até dormir ou até mesmo voltar a fazer as coisas que fazia quando estava com raiva, uma recaída.