Continuação 04

Um pouco mais tarde, Igor chama André em frente a sua casa.
- Cara, como é que você está?

- Vai embora! Não quero mais papo com você, esqueceu?!
- Pô cara, que isso?!

- André, vai começar com a bobeira de que não quer mais andar comigo?! Não precisa fazer assim, você parece uma criança!

- Acontece que agora eu dou mais valor para a minha vida e escolho o que eu acho que é melhor pra ela. No caso, andar com você a deixa pior do que ela já é, e eu não quero mais isso. Se tem um cara que eu posso chamar de amigo, esse cara é o Samuel e não você!

- Claro, aquele lá já fez a sua cabeça! Ele te colocou contra mim, aquele invejoso!

- Não foi ele! Eu mesmo que percebi que ser seu amigo não me levaria a nada, só para o fundo do poço! E também, eu já falei que não quero mais te ver outra vez, e você sabe, cara! Vai embora! Pára de me procurar, entendeu?! Pára caramba!

- Por que você está nervosinho, hein?! Aposto que levou um fora da namoradinha!
- Pára cara, sai!

- Eu te conheço cara, você fica assim quando leva um fora daqueles! Deixa eu adivinhar, ela terminou com você porque percebeu que você não é homem o suficiente pra ela, não foi?!

- Cala a sua boca! Ela terminou sim, mas isso não é da sua conta! E quer saber, caramba?! Você tem culpa nisso, porque você é um desgraçado e fez um também!
- Sabia, mas bem feito pra você, nem ligo!

- Fique sabendo que ela vai voltar pra mim e que você vai se ferrar, porque você merece!
- E deixa só eu descobrir quem era a sua namorada que eu vou pegar ela pra mim e vou dar o que ela quer, cara! Agora ela está livre por aí, só esperando por um cara como eu! Se ligou?!

- SAI LOGO DA MINHA FRENTE!
- Ah pára, vai aprender a fazer medo em alguém cara!

- Você vai ter o que merece Igor, você vai ver.
- Jamais! E presta atenção, eu vou embora, mas de agora em diante perdi o respeito por você, e tudo o que for seu eu posso roubar e farei isso sem piedade! Mané!

Mais tarde...

- Sempre, sempre te desejei assim, meu amor.
- Eu também... E agora estou aqui com você.

- Eu vou te fazer andar nas nuvens e nunca mais você vai embora. Promete que ficará comigo pra sempre, sua cheirosa?
- Não... Não posso ficar pra sempre André!

- André, acorda! Não vou ficar te chamando pra sempre André!

- Como assim não pode ficar pra sempre? Você quer me deixar de novo?
- É que eu não voltei com você e não pretendo voltar.

- Mas por que? Você já está aqui Isabela... Por que me olha desse jeito?
- Porque eu não te amo e você precisa entender isso de uma vez por todas.

- Quem você ama então?
- Você sabe André. E por favor, me deixe em paz.

- André, eu não vou falar de novo! Pára de resmungar e levanta logo, seu bêbado! O Samuel está esperando você lá na sala, anda logo!
- Tá, tá... Já vou levantar, que merda vai. - André respondeu ainda sonhando, porém quase acordado.

Logo se levantou e percebeu que foi um sonho. Ele ainda estava um pouquinho tonto por causa da bebida que ele esqueceu de esconder e acabou deixando no chão ao lado da cama, perto de umas roupas.
- Você bebe e dorme na bagunça mesmo, né? Troca a roupa e vai lá falar com ele!
- Foi sem querer, mãe.

- A sua mãe disse que você estava dormindo bêbado. Você está bem?
- A Isabela terminou comigo, cara.

- Eu sinto muito André, sei o quanto você gosta dela. Mas qual foi o motivo?
- Não sei...

- Olha, eu acho que ela não gosta mais de mim e sim do amigo dela. Acho que ela ficou com raiva de mim porque eu lutei com ele na rua, porque ele estava querendo roubar ela de mim descaradamente!
- Poxa André, que confusão você arrumou em pouco tempo!

- Mas é, acho que ela não volta mais pra mim.
- Ah que isso! Você já tentou conversar com ela pra saber se tem volta?
- Não, eu tenho medo.

- Eu preferi beber uma garrafa inteira, sozinho no meu quarto, enquanto ela pode estar com ele nesse exato momento fazendo coisas que eu queria estar fazendo com ela, é! Assim eu não penso tanto nisso e não fico louco pensando em como eles estão fazendo amor. No meu sonho, ela não me queria, ela me rejeitou como eu sabia que faria...

- Você não pode ficar assim por causa dela, cara! Ela não gosta mais de você, não é?
-  Ela cansou de mim e inventou uma desculpa pra voltar com o Paulo, eu tenho certeza.

- Então acorda, cara! Levanta essa cabeça e vai procurar outra garota que te queira!
- Eu queria ela.

- Mas não vai querer mais! Você vai sair comigo amanhã e vamos procurar gatinhas. Entendeu?

André fez uma cara rindo, imaginando como seria essa busca.
- É você tem razão.
- Pior que não tenho... Tenho medo de me intrometer e estragar alguma coisa cara, você não está bem.
- Deixa de ser otário, eu estou bem. Você acha que aquela garrafinha já me deixa tonto? Fala sério!

- Pois é, mas cuidado como você fala comigo. Vai se deitar que eu tenho que ir embora.
- Foi mal...

 Assim que sai do trabalho, fui direto para a casa de André. Fiquei pensando a tarde inteira sobre o que aconteceu, percebi que não adiantaria eu ficar sozinha sentindo a falta dele e que não fazia sentido ficarmos separados.

- E aí?
- Eu preciso conversar com o André. Ele está na casa dele, não está? - Perguntei morrendo de medo dele estar em outro lugar.

- Olha, se for pra voltar com ele, então ele está sim, só que muito mal. Ele gosta muito de você..
- Estou aqui justamente pra voltar com ele.

- Então tá. Olha, eu já falei com ele que se vocês não voltarem mais, ele e eu vamos procurar outras gatinhas na cidade. E sabe por que? Não quero o meu amigo sofrendo, ele não sabe lidar com isso.
- Só que eu vou voltar com ele, por isso estou aqui.

Entrei e dei uma olhada na casa, e parecia que ele estava sozinho.

Percebi o problema de André, assim que entrei no quarto dele. Ele estava cochilando, mas havia uma garrafa de cerveja ao lado de sua cama, no chão, e algumas peças de roupas também no chão.

Lembrei também do quanto ele saiu nervoso e chateado do salão, e fiquei com medo de falar com ele agora e ele ficar mais nervoso, não sei. Mas isso logo passou assim que eu notei que ele dormia feito um bebezinho que sonha fazendo bico. Fiquei só observando, achei tão bonitinho e ao mesmo tempo me dava vontade de beijar outra vez aquela boca.

- André!

- Quê? Que horas são?

Logo que percebeu que era eu quem estava ali, ele simplesmente ficou quieto e me olhando. Parecia que ele ficou sem jeito e sem saber o que dizer, mas eu sabia pelo seu olhar que ele ainda estava com raiva de mim.

- Não precisa fazer essa cara, eu estou aqui pra gente conversar e tentar resolver a nossa situação, André.

Ele se levantou pisando nas roupas do chão, sem perceber, meio desesperado, porque lembrou da garrafa no chão.

- Me perdoa... Na verdade eu não queria terminar com você, eu só estava triste.

- Aham...

- Eu quero voltar com você se ainda for possível.

- Mas você não queria ficar sozinha? O que aconteceu?

- Ah, foi uma bobagem minha, mas eu pensei a tarde inteira e vi que não fazia sentido. Eu fiquei muito triste por ter feito isso com você, desculpe.

- Tem certeza? Então, você gosta mesmo de mim? Sério?

- Eu te amo, e você deveria ter certeza disso.

- Estamos juntos, gata.

- Preciso mesmo cuidar de você.

- Como você vai cuidar de mim?

- Ficando com você da melhor maneira possível.

Já sentia falta de ser agarrada assim por ele, de sentir a força dos seus braços. Isso sempre me deixava estranha com o coração acelerado e com vontade de fazer coisas que eu tentava guardar para um futuro próximo.

Aquilo estava ficando forte e quase fora de controle. Parei um pouco para olhar o rosto dele, só pra ter certeza de que não aguentaríamos mais e que talvez não fosse preciso, afinal, estávamos ali sozinhos e querendo a mesma coisa.

- Pensando bem, dane-se o que os outros vão pensar, eu cansei de querer ser certinha até agora.

- Espera... Sério que você também quer? Você quer agora?

- E você tem duvida?

Ainda bem que corri atrás para recuperar o nosso namoro, porque eu tinha certeza de que o André poderia sumir da minha vida e poderíamos nos ver nunca mais. No fundo eu fugi, porque sabia que a cada vez que ficávamos juntos isso se tornaria realidade, e eu tinha medo, achava que não era a hora, principalmente pra ele que é mais novo. Mas me enganei. André era muito mais que a sua idade em relação a isso.

Foi muito melhor do que eu imaginava que seria, foi sem explicação.

Só não sabíamos que logo não estaríamos mais sozinhos na casa dele.

- Esse vai ser o nosso segredinho, André.

- Com certeza. Mas eu vou querer repetir esse segredinho.

Camila passava em frente a porta do quarto e ouviu a nossa conversa.

- Tenho que ir antes que fiquem preocupados.

- É melhor mesmo, minha mãe daqui a pouco chega.

- Amanhã nos vemos, meu amor.

- Com certeza!

- Ela já foi, meu filho?

- Quem?

- A Isabela. O que ela veio fazer aqui?

- É... Nada, só estávamos resolvendo um assunto.

- Qual assunto?

- Da escola, mãe.

- Mas no seu quarto? Não sou boba querido, fala logo o que vocês estavam fazendo, porque eu escutei tudo.

- Tá bom mãe. Mas quando você chegou? E, o que você escutou?

- Hum, você quer saber?

- Fala logo!

- Bem, eu sei que agora vocês tem um segredinho... O que é?

- Só isso que você escutou?

- Eu quero que você me fale, vai! Conta pra sua mãe o que vocês estão escondendo, preciso ter certeza de que é o que eu estou pensando.

- Você pensa cada coisa, assim não dá!

- Então eu já sei o que vocês estavam fazendo lá, não estou idiota, só queria que você me falasse.

- Mãe, você é intrometida. Não fizemos nada disso e mesmo que tivéssemos feitos não seria bem aqui em casa. E pára de querer saber muito, você é fofoqueira, mãe.

- Tchau, tenho que voltar a dormir.

- Tudo bem, mas não pense que você consegue me enganar.